Em abstracto
Em abstracto

A imagem fantasma em Alberto Caeiro

As palavras de Alberto Caeiro trespassam-nos com uma simplicidade inquietante e, dessa forma, desvenda o Desapego da razão, do julgamento e do pensamento. O mundo com que Caeiro cria é pensado pelos Sentidos, repletos de estados meditativos que nos conectam a algo maior e exterior a nós, que se sente e não se vê, se bem que nos encaminhe para o mais profundo do nosso ser.
Parece, assim, criar uma imagem que não corresponde de forma total e transparente com a realidade. A imagem deixa de ser uma correspondência com a realidade e passa a ser uma paisagem daquilo que não se vê; ou seja, a imagem passa a ser o studium, no qual eu invisto a minha Consciência, se bem que, perturbada por algo invisível (punctum), sou obrigada a ver de outro modo. Assim, sou empurrada para a dimensão do Sensível, que não pertence ao olho, se bem que seja o mundo, um mundo que surge como um abismo, como um vazio que convoca em mim um movimento de errância para fora de mim como forma de aceder ao que não se vê em mim.
Alberto Caeiro oferece-nos uma experiência do mundo que reconduz o sujeito ao contacto directo com os objectos e à significação originária das coisas na medida em que elas se apresentam à percepção – não quer por isso Despertar o pensamento; pretende Despertar a experiência do mundo e o modo como ele se apresenta às sensações. Caeiro abandona a razão e promove o conhecimento por via da percepção, das sensações. Estas sensações dialogam por via de uma simplicidade visual que causa um vazio que nos inquieta e move para fora de um mundo caos elaborado pela língua e o pensamento, que o poeta usa como forma de desconstrução desse mesmo mundo.

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