Em abstracto
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Mitos da mudança

Actualmente, as técnicas de reprogramação da mente são muito utilizadas como ferramentas de transformação. A ideia subjacente é: os teus pensamentos criam a tua realidade.
Compreendo e concordo, em parte.
Esta ideia provoca mal-entendidos e cria mitos associados à mudança, que a bloqueiam. E, hoje, vamos reflectir sobre alguns desses mitos.

Mito 1: é suficiente ter um plano.
Como já deu para perceber, não basta ter um plano. Há que pôr em prática esse plano, ou seja, há que dar passos todos os dias na direcção dos nossos objectivos. Porém, há também que estar atento ao que se passa dentro de nós e ao nosso redor para poder definir pequenos ou grandes acertos ao nosso plano, para assim atingir os objectivos.

Mito 2: para mudar basta querer.
A vontade é um grande aliado no processo de mudança, no entanto este último pode ser posto em causa devido a determinados bloqueios, sejam emocionais, mentais, físicos ou espirituais. Por vezes, temos a força de vontade necessária para implementar uma mudança na nossa vida e, ao mesmo tempo, auto-sabotamos o que desejamos.

Mito 3: não mudas por que não queres.
Habitualmente, não mudamos por não reconhecermos que precisamos mudar. Quando esse reconhecimento acontece, a mudança pode levar o seu tempo, por vários motivos, no entanto acontece, mesmo que de uma forma mais lenta. Muitas vezes, a mudança é posta em causa por causa da falta de confiança, auto-estima e amor-próprio.

Mito 4: a melhor motivação para a mudança é o medo.
O medo não é a melhor motivação. O medo pode ajudar a promover certas mudanças, sim! No entanto, o medo é, quase sempre, o que nos impede de promover mudanças na nossa vida. O medo bloqueia, a maior parte das vezes. A melhor motivação é mesmo o auto-conhecimento, ou seja, a consciência de quem somos, do que vivemos, o que nos está a motivar e o que queremos mudar.

Mito 5: as pessoas que nos amam, ajudam-nos em todas as nossas decisões.
Por vezes, as pessoas que nos amam, atrapalham mais do que ajudam. Querem ver-nos felizes e não percebem que a mudança pode provocar tensão e pressionar só cria maior tensão. Mesmo assim, devemos conversar com as pessoas mais próximas para terem consciência do que vai acontecer e as várias fases e obstáculos do nosso processo de mudança. Para além disso, muitas vezes as pessoas que nos amam não aceitam algumas mudanças que desejamos implementar. Neste caso, há que tornar claro que a decisão é nossa e está tomada!

Mito 6: assim que te decides a mudar, nada te parará.
Assim que decides mudar surgem obstáculos que te testam diariamente. Alguns desses são provocados por bloqueios interiores e outros são provocados por ameaças do meio envolvente.
Por exemplo, eu tenho excesso de peso. E decido perder peso, implementando mudanças apenas ao nível corpóreo – alimentação mais regrada e prática de exercício físico. No entanto, eu acredito (mundo mental) que não sou capaz de perder peso, porque sinto (mundo emocional) que preciso de manter o excesso de peso que tenho, para me proteger da energia dos outros (mundo espiritual). O excesso de peso permite-me manter os outros à distância! A perda de peso tem assim um peso negativo maior do que o peso que quero perder.
Quanto peso conseguirei perder?
Durante quanto tempo conseguirei manter a prática de exercício físico e a alimentação mais regrada?
Quanto tempo levarei a passar por uma recaída?
Quanto tempo levarei a recuperar o peso que conseguir perder durante esta mudança que implementei no meu mundo corpóreo?

Existem dores, mágoas, bloqueios a um nível que a nossa mente consciente não consegue aceder. Estas necessitam de um trabalho multidisciplinar, que as ilumine para poderem ser sanadas.
Todos os processos de mudança passam por períodos mais fáceis e outros mais difíceis. Períodos em que questionámos tudo e outros em que somos invadidos por uma força inabalável; períodos em que a transformação acontece de forma rápida e outros que parece estagnar, não temos consciência de existir uma evolução, tal é a lentidão. Esta oscilação ocorre por vários motivos, por isso as técnicas utilizadas devem ser adequadas aos diferentes motivos, pois a não adequação pode provocar frustração e desmotivação.