Passado presente!
«O passado está muito presente na minha vida!»
Parece surreal e é mais real do que parece à primeira vista, porque a nossa memória é muitas vezes distorcida por causa das emoções vividas aquando dos acontecimentos da vida.
As emoções positivas ou negativas são provocadas pela satisfação ou não satisfação das nossas necessidades e levam a interpretações ou julgamentos das nossas vivências.
Por isso, a ideia que temos do nosso passado é, tantas vezes, errada, pois a nossa memória não regista apenas os factos reais; sobrepõe, por vezes, os julgamentos aos factos. Ou seja, a memória consiste, também, nas interpretações que fazemos das nossas experiências. E essas interpretações condicionam-nos no presente.
Esse condicionamento acontece com mais frequência, do que gostaríamos.
A maior parte das vezes, nem damos conta que estamos a ser condicionados pela nossa mente.
Aliás, uma das principais funções de um profissional do desenvolvimento pessoal é facilitar a tomada de consciência dessas ideias erróneas que temos da nossa vida, seja um terapeuta, um coach, um mentor, um formador.
O coaching de narrativa de vida auxilia nesse propósito ao potenciar a tomada de consciência das “estórias” que contamos a nós mesmos e que nos bloqueiam, de alguma forma.
Assim, a narrativa de vida começa por (1) contar (escrever ou gravar) a “estória”, como nos recordamos dela.
De seguida, é importante (2) aceder ao registo e identificar os factos reais, ou seja, o que aconteceu na realidade e registá-los numa folha à parte. No meio de todas as interpretações e julgamentos, conseguimos encontrar os factos. No entanto, é preciso manter o distanciamento emocional da “estória”.
Ao distinguir os factos reais da interpretação ou julgamento que fizemos no passado, conseguiremos aceder novamente à “estória” e (3) identificar a interpretação ou julgamento, que fomos construindo à volta dos factos. O que resta são os julgamentos que fizemos do que os outros podem ter entendido do facto.
Posteriormente, é importante (4) registar os sentimentos e necessidades associados a cada facto, pois assim é possível perceber por que motivo sentimos o que sentimos – o que estávamos a viver naquele momento (ou o que tínhamos vivido até ali) que nos fez sentir assim? Os sentimentos identificados repetiram-se ao longo da minha vida? Quando foi a primeira vez que esse sentimento surgiu, ou seja, quando foi a primeira vez que a necessidade subjacente não foi satisfeita?
É um rewind lento. Partimos da visão que temos para identificar x elementos. Desses elementos tiramos mais y elementos. E, com esses, chegamos a uma visão mais aprofundada de algo que, no nosso passado, nos marcou de tal forma que ainda hoje (e ao longo da vida) condiciona a forma como nos vemos o que nos acontece (e viamos o que nos acontecia).
Este processo leva-nos a uma visão completamente diferente dos factos, pois podemos responder, de forma consciente, às seguintes perguntas:
O que realmente aconteceu?
O que aquele facto nos fez sentir? (através da interpretação ou julgamento do facto)
Porque é que este acontecimento (facto) nos fez sentir isto (sentimento)? Ou seja, qual foi a necessidade que não vimos satisfeita que provocou este sentimento? Qual foi o gatilho premido para nos provocar este sentimento? Por exemplo, se sentimos infelicidade, porquê? Se sentimos vergonha, porquê? Se nos sentimos abandonados, porquê?…
Basicamente, estamos a desconstruir a memória que criamos dos eventos que vivenciamos ao longo da nossa vida.
Por exemplo, o sentimento de abandono de uma criança – este sentimento pode ser provocado por diversos motivos. O sentimento de abandono não é racional. Algo tão simples como adormecer ao colo da mãe e acordar sozinho, num quarto escuro, pode abalar o sentido de segurança, de conforto, de cuidado, de confiança da criança. As necessidades subjacentes ao sentimento de abandono são as de: aceitação, protecção, segurança, confiança, cuidado, apoio, valorização.
E como é que ultrapassamos esses bloqueios?
Como é que podemos ser nós na plenitude?
A tomada de consciência dos nossos sentimentos e as necessidades subjacentes ajuda-nos a focar na causa, em vez de focar no sintoma.
Ao focar na causa, podemos iniciar a cura na primeira marca daquela necessidade não satisfeita. Para além disso, permite-nos perceber que não somos a causa dos actos dos outros.
Tudo o que os outros fazem é em reacção ao que vivem no momento em que têm uma determinada acção. Por exemplo, quando um progenitor abandona um filho, fá-lo por causa dos próprios demónios. Nada tem a ver com o filho ou o valor deste; está relacionado apenas com os medos, as crenças, os desequilíbrios dos progenitores. Está apenas relacionado com o que vivem, naquele momento. Ou seja, as necessidades deles não estavam a ser satisfeitas. E como não souberam lidar com os sentimentos daí decorrentes, acabam por transferir essa negatividade para a relação com os filhos.
E tu? Que “estórias” contas a ti mesmo sobre a tua vida?
Ouve-as com atenção…
Identifica os factos…
Ilumina os julgamentos e sentimentos…
Toma consciência das necessidades não satisfeitas, que continuam a condicionar a tua vida…
E conecta-te a ti mesmo.
Volta ao momento em que essa cicatriz foi criada e procura satisfazer essa necessidade.
Uma a uma, curas de dentro para fora e mudas a tua vida!