Era uma vez...
Era uma vez...

Escolhe Ser Feliz!

A porta da rua chocou violentamente contra a soleira.
O homem furioso desceu as escadas.
Resmungava, enquanto maltratava o corrimão com a mão esquerda e espezinhava cada degrau.
Entrou no carro e saiu a toda a velocidade, sem direcção aparente.
Lá em cima ficou uma mulher nervosa e cansada de tantas discussões.
Ela perambulava pela casa, enquanto lutava contra os próprios pensamentos e emoções.
A sua vontade era desaparecer.
Todos os dias, ele encontrava alguma desculpa para gritar e praguejar.
Custava-lhe ouvi-lo.
Soa a campaínha.
O toque não é longo, por isso não é ele.
É a Sara. Combinou ir lá a casa arranjar o cabelo.
O rol de acusações começa assim que entra.
Toda a sua mágoa derramada sobre os ouvidos atentos da amiga.
«Nunca nada está bem para ele», é o que mais se ouve.
«Ora é o almoço, ora é a roupa, ora é o raio que o parte.»
A amiga olha-a com calma e compreensão.
«Passo o dia a limpar o que ele suja. Não há paciência!», desabafa ela.
A Sara, incomodada com o que ouvia, pergunta-lhe:
«Tu ainda o amas?»
Pergunta chave, para a qual a Cecília não tem resposta.
«Alguma vez o amaste?»
«Sim, éramos loucos um pelo outro.»
«E que é que aconteceu? Amavam-se e agora já não se amam?»
A Cecília olhou de imediato para o chão.
«De verdade, o que é que tu sentes pelo Bernardo?»
«Não sei.»
«O que é que te fez apaixonar por ele?»
«Oh! Eu adorava… ele era tão genuíno. Nunca escondia o que sentia. Por vezes, era um bocadinho inconveniente, mas até isso eu achava piada.»
«Então, por que é que agora rejeitas tudo o que te fez apaixonar por ele? O que é que aconteceu?»
«Não sei! Irrita-me tudo nele! Basta ouvir a chave na porta e lá se vai o meu sossego!»
«Então, divorcia-te!»
«É fácil falar para quem está de fora!»
«A sério! Não têm filhos, andam sempre às turras, desrespeitam-se constantemente e nem sabes o que sentes por ele. Para quê continuar este martírio?»
«Oh Sara! Isto não é fácil. Pode parecer fácil, mas não é!»
«Oh minha querida, se fosse fácil, não seria uma aprendizagem. E as aprendizagens são desafiantes para promover a transformação necessária à nossa vida.»
«E o que é que posso fazer?! Passa a vida a discutir. Ele não muda. É teimoso!»
«Nada! Para o mudar, nada deves fazer. Ele tem o feitio que tem e só ele pode mudar, se entender que deve. Isso é responsabilidade dele. É uma escolha dele. A tua responsabilidade é perceberes o que fazes nesta relação e se continua a fazer sentido para ti. Houve um dia em que o amaste por ser quem é. Ainda o amas? E queres continuar a viver esse Amor?
«Penso que sim…»
«Então, aceita. Amar é aceitar e cuidar de alma e coração, sem julgar, sem controlar, sem prender.»
«Não sei! Não sei o que fazer. Acho que ele não me ama! Se alguma vez amou…»
«Isso é o medo a falar! Ainda há pouco disseste que eram loucos um pelo outro. Cecília, um casamento não é feito apenas de Amor. Todos os casamentos têm problemas. A verdade é que de nada vale enfiares a cabeça na areia, feito uma avestruz. Os problemas vão continuar a existir, e só tendem a crescer, se não fizeres algo para mudar a tua vida. E isso assusta!»
«O quê?»
«Assusta os dois! Vocês ainda se amam, só estão cansados da rotina. E têm medo de dar um passo para sair dessa rotina. Têm medo de errar. Esqueceram-se que a vida é feita de escolhas. Nem certas nem erradas, apenas escolhas.»
«Eu não tenho medo! Tenho pena dele. Ele não tem amigos, não se dá bem com ninguém. Arranja problemas com toda a gente. Acho que só o teu marido tem paciência para o aturar.»
«O David adora o Bernardo. São amigos há muitos anos. Aceitam-se como são.»
«Eu sei. O David é um grande amigo, mas o Bernardo é muito conflituoso. E tenho pena que assim seja, porque ele sofre quando as pessoas se afastam dele.»
«Não sintas pena. Sente gratidão. Gratidão pela oportunidade de aprender a distinguir o que é da tua responsabilidade e o que não é.»
«Mas ele é o meu marido. Não quero que sofra. Nem a família quer ter contacto com ele.»
«Disseste o que não queres. Diz-me o que queres!»
«Quero… quero que volte a ser o homem que sempre amei.»
«Ele é o homem que sempre amaste. Tu só não consegues ver isso, porque insistes em ver apenas os defeitos dele. E ele faz o mesmo! Vocês estão presos ao caos que criaram na vossa vida. E insistem em não escolher sair desse caos. Sempre que te pergunto algo, apontas para ele. E tu? Que podes fazer tu para que a vossa vida mude?»
A Cecília engoliu em seco. Não sabia o que responder à Sara.
«Minha querida amiga, para amar há que ser Feliz. E para ser Feliz, há que aceitar de coração aberto, mesmo quando recebemos algo que não queremos. E, às vezes, a felicidade está em viajar até que os vossos olhos se encontrem de novo. Mesmo que, para isso, seja necessário desencontrarem-se primeiro. Esse é o segredo de um casamento Feliz! Faz Sentido?»
«Faz!»
«Então, minha querida, Escolhe Ser Feliz!»

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